segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

OS SIMPLES DESCOBRIMENTOS


(Soldadinho de Chumbo)

As vezes procuramos respostas em lugares tão longe da gente mesmo que sequer nos damos conta das respostas diárias que a vida nos da e que em muitos casos estão bem pertinho.
Eu queria dar um passo a mais, me dar a chance de tirar a venda dos meus olhos e tentar ver além.
Além de mim, além daquilo que fiz de mim.
Sair à procura de rastros solitários perdidos na imensidão do meu singular.
Me dar a oportunidade que só por mim poderia ser dada.
(Pausa)
Mas foi assim que começou.
(Pausa)
Era mais ou menos meia noite de sábado e eu sai sozinho de casa com a coragem de quem poderia talvez ter que amargar uma noite inteira sozinho. Mas eu fui lá, me dei a permissão, coloquei uma roupinha mais ou menos, porque não sei fazer essas coisas de me arrumar, e fui.
Inventei mil coisas e possibilidades, menos aquela. Bom, mas isso fica pra depois.
A noite estava muito quente igual a todas as outras noites anteriores, nas quais se tornava quase impossível dormir sossegado. Sai caminhando pela cidade e no meio do(s) caminho(s) cruzei por pessoas sinceramente incríveis e interessantes.
Está perto do carnaval, eu pensava, e no carnaval da minha cidade as pessoas costumam ficar mais acesas, mais eufóricas, mais sensíveis até eu diria. E naquela noite eu nem suspeitava que me encontraria com o Eu de Mim ou o Eu em Mim.
Era como se naquela noite eu estivesse pronto para fazer poesia, mas eu estava com medo, sempre o mesmo medo, o medo de até derrepente fazer poesia, mas não a Eu-Poesia.
(Pausa)
No meio do caminho eu encontrei alguém que me fez bem mas que não era aquele alguém. Sorrimos um pouco e depois eu segui a minha caminhada. Era calor como eu já disse, mas era uma temperatura agradável, pelo menos estava tudo dentro daquela sintonia de poesia.
Cheguei então ao local do ritual, onde não havia quase ninguém. Olhei para um lado e outro e resolvi sentar perto a uma janela de onde podia ver alguns discos de vinil presos na parede. E foi ai que as pessoas começaram a chegar, muitas, de todos os tipos e então eu sentia vontade de sorrir, mas não conseguia sair do meu cantinho, a final, eu não costumo sair sozinho, para falar a verdade eu acho que nunca sai sozinho.
(Pausa)
E ai você entrou.
Simplesmente você entrou e ai todo aquele universo começou a se formar sem ao menos eu perceber que alguma coisa ali estava se modificando.
Eu vi você, claro que eu vi, nós já nos conhecíamos, ou eu me enganava que nos conhecíamos.
O beijo é apenas uma forma de conhecer.
Mas nada aconteceu de fato, fiquei no meu canto e você no seu sem ao menos nos cumprimentarmos. Dançávamos e mal nos olhávamos e tudo parecia tão normal.
Então chegaram os conhecidos, muitos, alguns animados, outros nem tantos e ai começamos a beber e a rir muito e a dançar muito, mas você estava lá e eu não te percebia mais.
(Pausa)
Foi então que passamos perto um do outro, tão perto que não conseguimos não trocar aquela energia e ai então tudo aconteceu. E foi tão bom. E eu me senti tão bem, tão eu, tão seguro. A noite passava e voltávamos a nos encontrar e reencontrar.
(Pausa)
E eu amanheci na sua casa, no seu mundo, e o melhor de tudo, com você, e comigo.
(Pausa)
É estranho, mas você me fez sentir tão bem, como ha muito tempo ninguém havia feito.
Eu estou feliz e sei que isso vai terminar e já sei até o dia que isso vai acontecer.
Mas não importa, como diria Caio Fernando Abreu em um de seus contos: “Que seja doce”. Eu vou aproveitar você o máximo que eu puder, o máximo de tempo junto porque está “sendo doce”.
Eu agradeço muito a você por ter resgatado a minha auto-estima e por ter feito eu me enxergar de uma forma diferente da qual eu andava me vendo nos últimos meses.
Valeu, valeu por tudo.
Minha noite “encantada” terminou às 9h da manha. Mas sei que ainda haverão outras antes de você ir embora fisicamente e ficar eternamente na minha memória.
É como dissemos ontem, talvez nos encontremos no futuro em alguns encontros de arte.
E parafraseando Caio mais uma vez, que sempre “seja doce”.

Piercing (dois).

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